Notação Big Ômega
Conheça todos os detalhes da notação Big Ômega: a segunda das 3 principais notações usadas em análise de algoritmos.
09/11/2023
No último artigo conhecemos a primeira notação utilizada na ciência da computação para definir comportamento assintótico de algoritmos: a notação Big O. Neste artigo te ensinaremos a segunda notação computacional utilizada para a análise de algoritmos: a notação Big Ômega (ou apenas Ômega), representada pela letra grega Ω.
Se você ainda não leu o artigo sobre a notação Big O, clique neste link e acesse o artigo onde explicamos detalhadamente sobre o assunto. É altamente recomendado que você tenha algum conhecimento sobre a notação Big O antes de ler este artigo!
Da maneira mais objetiva possível, a notação Ω nos fornece uma simbologia simplificada para representar um limite inferior de desempenho para um algoritmo. Um limite mínimo de tempo que um algoritmo leva para ser executado. Ou seja, a notação Ω é o inverso da notação Big O.
Vamos a alguns exemplos práticos para você começar a compreender o significado e o uso da notação Ω.
Exemplo para função linear
Quando dizemos que a função 4n-3 é Ω(n) (lê-se “é ômega de n”), estamos afirmando que o comportamento assintótico de uma função linear é igual ou inferior ao dela. Significa dizer: a função 4n-3 nunca terá um comportamento de crescimento inferior ao de uma função com o comportamento linear.
Desta forma, Ω(n) apresenta-se como um limite inferior, e sabemos que a função 4n-3 nunca apresentará um comportamento de crescimento que seja ultrapassado por esse limite inferior.
Exemplo: para a função 4n-3, existe uma outra função de comportamento linear que a limita inferiormente. Perceba no gráfico abaixo que, para valores de n≥1, a função 4n-3 supera a função n.
Da mesma forma, também é correto afirmar que 4n-3 é Ω(1), pois a função 4n-3 nunca apresentará um comportamento de crescimento que seja ultrapassado por um comportamento constante. Desta forma, Ω(1) também se apresenta como um limite assintótico inferior:
Agora, seria errado dizer que 4n-3 é Ω(n2), pois a função 4n-3 nunca crescerá a ponto de ultrapassar o comportamento quadrático. Desta forma, Ω(n2) não se apresenta como um limite assintótico inferior:
Resumindo:
4n-3 não é Ω(n2), pois não pode superar (limitar inferiormente) uma função quadrática.
4n-3 é Ω(n), pois pode superar (limitar inferiormente) uma função linear.
4n-3 é Ω(1), pois pode superar (limitar inferiormente) uma função constante.
Exemplo para função quadrática
Quando dizemos que a função 5n2-n-3 é Ω(n2), estamos afirmando que: “o comportamento assintótico de uma função quadrática é igual ou inferior ao dela”. Significa dizer: a função 5n2-n-3 nunca terá um comportamento de crescimento inferior ao de uma função com o comportamento quadrático.
Desta forma, Ω(n2) apresenta-se como um limite inferior, e sabemos que a função 5n2-n-3 nunca apresentará um comportamento de crescimento que seja ultrapassado por esse limite inferior.
Perceba no gráfico abaixo que: para a função 5n2-n-3, existe uma outra função (n2) de comportamento quadrático que a limita inferiormente. Perceba que, para valores de n≥1, a função 5n2-n-3 supera a função n2.
Da mesma forma, também é correto afirmar que a função quadrática 5n2-n-3 é Ω(n), pois a função 5n2-n-3 nunca apresentará um comportamento de crescimento que seja ultrapassado por um comportamento linear. Portanto, Ω(n) também se apresenta como um limite assintótico inferior:
Por outro lado, seria errado dizer que a função 5n2-n-3 é Ω(n3), pois a função 5n2-n-3 nunca crescerá a ponto de ultrapassar o comportamento cúbico. Desta forma, Ω(n3) não se apresenta como um limite assintótico inferior:
Resumindo:
5n2-n-3 não é Ω(n3), pois não pode superar (limitar inferiormente) uma função cúbica.
5n2-n-3 é Ω(n2), pois pode superar (limitar inferiormente) uma função quadrática.
5n2-n-3 é Ω(n), pois pode superar (limitar inferiormente) uma função linear.
Definição matemática formal
Dada duas funções de complexidade de tempo de algoritmos: f(n) e g(n). A definição matemática formal estabelece que:
- f(n) = Ω(g(n)) (lê-se “f de n é Ômega de g de n”) se existirem constantes positivas c e n0, tais que f(n) ≥ c.g(n) para todos os n ≥ n0.
Essa definição parece um pouco complicada de se compreender à primeira vista, mas vamos demonstrar com alguns exemplos práticos.
Resolução matemática: 1º exemplo
Vamos tentar demonstrar pela definição que 4n+1=Ω(n) (lê-se “é Ômega de n”).
Primeiramente, temos que:
- f(n) = 4n+1
- g(n) = n
Se, pela definição matemática, precisamos demonstrar que existe uma constante positiva c e um valor positivo n0 inicial, de forma que:
- f(n) ≥ c.g(n) para todos os n ≥ n0
Então, para este problema, precisamos mostrar que:
- 4n+1 ≥ c.n para todos os n ≥ n0
Em resumo: precisamos provar que, para todos os valores de n maiores ou igual a n0, a função 4n+1 é maior ou igual a c multiplicado por n.
Para tanto, a primeira decisão que precisamos tomar é escolher um valor para a constante c. Neste caso, vamos considerar c igual ao valor 4. Observe abaixo uma tabela que mostra os resultados da desigualdade para c=4 e para alguns valores de n:
Observe que, para todos os valores de n expressos na tabela, a função do algoritmo 4n+1 é sempre uma unidade maior que c.n. Quando plotamos um gráfico para ambas as funções, visualizamos com maior clareza como a função 4n+1 cresce mais que a função c.n:
Isso significa que Ω(n) representa um limite assintótico inferior para a função 4n+1, ou seja, existe uma constante c=4 e um n0=1, tal que 4n+1 ≥ c.n para todos os valores de n maiores ou igual a n0.
Desta forma, está provado que, de fato, 4n+1 = Ω(n).
Resolução matemática: 2º exemplo
Vamos tentar demonstrar pela definição que 5n2-n-3=Ω(n2) (lê-se “é Ômega de n ao quadrado”).
Primeiramente, temos que:
- f(n) = 5n2-n-3
- g(n) = n2
Se, pela definição matemática, precisamos demonstrar que existe uma constante positiva c e um valor positivo n0 inicial, de forma que:
- f(n) ≥ c.g(n) para todos os n ≥ n0
Então, para este problema, precisamos mostrar que:
- 5n2-n-3 ≥ c.n2 para todos os n ≥ n0
Em suma: precisamos provar que, para todos os valores de n maiores ou igual a n0, a função 5n2-n-3 é maior ou igual a c multiplicado por n2.
Novamente, precisamos escolher um valor para a constante c. Neste caso, também vamos considerar c igual ao valor 4. Observe abaixo uma tabela que mostra os resultados da desigualdade para c=4 e para alguns valores de n:
Observe que, para todos os valores de n>2 expressos na tabela, a função do algoritmo 5n2-n-3 é cada vez maior que c.n2. Quando plotamos um gráfico para ambas as funções, visualizamos com maior clareza como a função 5n2-n-3 cresce mais que a função c.n2.
Isso significa que Ω(n2) representa um limite assintótico inferior para a função 5n2-n-3, ou seja, existe uma constante c=4 e um n0=3, tal que 5n2-n-3 ≥ c.n2 para todos os valores de n maiores ou igual a n0.
Desta forma, está provado que, de fato, 5n2-n-3 = Ω(n2).
Resolução matemática: 3º exemplo (errado)
Vamos tentar demonstrar pela definição que 2n+1=Ω(n2).
Primeiramente, temos que:
- f(n) = 2n+1
- g(n) = n2
Se, pela definição matemática, precisamos demonstrar que existe uma constante positiva c e um valor positivo n0 inicial, de forma que:
- f(n) ≥ c.g(n) para todos os n ≥ n0
Então, para este problema, precisamos mostrar que:
- 2n+1 ≥ c.n2 para todos os n ≥ n0
Em suma: precisamos provar que, para todos os valores de n maiores ou igual a n0, a função 2n+1 é maior ou igual a c multiplicado por n2.
À primeira vista, percebe-se que 2n+1 possui comportamento linear e c.n2 possui comportamento quadrático. Desta forma, percebe-se que essa demonstração é falsa, pois uma função quadrática (c.n2) não pode representar um limite assintótico inferior para uma função linear (2n+1).
No entanto, vamos realizar uma análise mais aprofundada para perceber o motivo dessa impossibilidade.
Vamos realizar algumas transformações algébricas no âmbito de isolar a constante c na inequação e perceber os seus possíveis valores:
A inequação resultante já nos mostra a impossibilidade de existir alguma constante c que a torne válida para grandes valores de n (n→∞), pois, independentemente do quão grande for o valor de c, o denominador n2 sempre irá tornar o resultado da função cada vez menor.
Observe na tabela abaixo como o valor da função fica cada vez menor quando comparado com o valor de c (considerando c=1, que é o seu valor mínimo). Pode-se perceber que os valores da função se aproximam de zero ao passo que o valor de n cresce.
Isso significa que, mesmo com o menor valor possível para a constante c, a função sempre irá diminuir a ponto de se tornar menor que a constante.
Portanto, não conseguimos demonstrar o nosso objetivo. Não existe uma constante c e um n0, tal que 2n+1 ≥ c.n2 para todos os valores de n maiores ou igual a n0.
Desta forma, está provado que, de fato, 2n+1≠Ω(n2) (lê-se “não é Ômega de n ao quadrado”).
Exercícios
Para demonstrar que você compreendeu bem o conceito e a definição matemática formal da notação Big Ômega, resolva os exercícios propostos:
Exercícios A
Tente demonstrar matematicamente que n2+800 = Ω(n).
Tente demonstrar matematicamente que 2n+10 = Ω(n).
Tente demonstrar matematicamente que n+10 = Ω(n2).
Tente demonstrar matematicamente que 7n-2 = Ω(1).
Tente demonstrar matematicamente que n2+20n+5 = Ω(n3).
Exercício B
Utilizando a técnica de contagem de instruções, encontre a fórmula de complexidade T(n) do algoritmo abaixo e, em seguida, tente demonstrar matematicamente que essa fórmula encontrada é Ω(n2).
1.public static void func(int[ ] n){
2. for (int i=0; i<n.length-1; i++) {
3. n[i]=i+i;
4. }
5.}
Continue os seus estudos neste curso e leia o próximo artigo sobre a última de três notações usadas na computação para representar o comportamento assintótico dos algoritmos: a “notação Theta”.
David Santiago
Mestre em Sistemas e Computação. Graduado em Sistemas de Informação. Professor de Linguagem de Programação, Algoritmos, Estruturas de Dados e Desenvolvimento de Jogos Digitais.